sexta-feira, 15 de maio de 2009

Os Cults, os blogs e as gueixas

Eu tenho calouro chamado Balu (você quis dizer Bauru, Word sobre essa palavra). Ele tem um blog chamado Corra Mary, o qual ele divide com algumas garotas bem gostosas, virtualmente falando. Digo isso porque nunca vi nenhuma delas, nem sei quem são, mas elas têm uns avatares bastante aprazíveis, principalmente o da menina que dá nome a tal página. Até onde eu sei, elas podem ser um bando de gaúchos barbudos teclando de alguma sauna mista da vida (o mais provável), mas quem sou eu para julgar.

O Balu que se chama Pedro tem uns textos bem divertidos, felizmente ele não tem nada a ver comigo, e consegue ser mais engraçado do que metido...a Zé Graça. Num texto em particular ele tava falando sobre a feiúra dos cotovelos e logo no início os comparava ao pessoal que frequenta o Norte Shopping – a princesinha da Zona Norte. Obviamente, ele nunca foi ao Madureira Shopping, Bangu Shopping ou no Center Shopping (4 lojas numa galeria de Vila Valqueire), mas ai já é covardia. Eu, claro, tomei como ofensa pessoal. Pode falar da família toda (que aliás, é freqüentadora assídua), mas num mete o shopping no meio!!! Também lembrei que não é só ele que fala isso. Já ouvi essa mesma piadinha em salas de aula, congressos acadêmicos, academia, mesa de bar e até num enterro.

Então, eu resolvi tomar uma atitude de homem (H-O-M-I) e contra-atacar. Porque teve uma vez (única vez meesmo) que fui no Shopping da Gávea e durante toda minha passagem por lá fiquei confabulando este texto.

A primeira coisa a se perguntar aqui é: o que raios eu fui fazer no shopping da Gávea? Afinal, a Gávea está aqui para a Montanha da Morte assim como...como... como a Gávea está para qualquer lugar que não seja o Leblon, ou seja, é longe. Eu só fui lá mesmo por um motivo: Festival do Rio. Afinal, nenhum jovem pseudo-intelectual que se preze pode perder este grande evento cinematográfico. Tava até pensando em fazer um texto sobre isso, mas aí desisti porque ele não ia ser nada Cult.

Sinceramente, eu nunca tinha ido ao Festival. Justamente porque acontece (predominantemente) na Zona Sul e eu não gosto de lá (outra coisa sobre a qual eu poderia fazer um belo texto. Na verdade, eu não gosto da Zona Sul, da Zona Oeste, do Centro, da Baixada e de alguns bairros da Zona Norte como a Tijuca, se bem que deste último só quem gosta são os próprios tijucanos. Porque se a Tijuca não existisse, eles não poderiam reclamar dela).

Voltando ao Festival... calhou de na época eu estar fazendo um estágio no caderno cultural da Tribuna da Imprensa (meus pêsames), o TBis e assim eu recebi meu passe de imprensa. Serinho, o melhor jeito de assistir um filme é de graça. Claro que não era de graça, pois no dia seguinte eu me mataria para tentar escrever algo sobre eles. Mas no geral, o mais importante é a diversão.

Mesmo tendo que manter minha pose de crítico de cinema renomado, eu o fiz de uma maneira bem Nerd de raiz. Nada de filmes franceses ou qualquer coisa européia, porque isso é coisa de viadinho. Parti logo para o evento mais Nerd do Festival, a mostra em homenagem a Imigração Japonesa. O melhor jeito de pagar de crítico erudito e ainda ver alguns animes (desenho animado, para os leigos).

Só que dos 20 filmes da Mostra só dois eram animes, e um deles foi cancelado – o mais legal, diga-se de passagem, Ponyo on the cliff by the sea ou Gake no ue no Ponyo ou só Ponyo mesmo. Além desses, mais 3, dos 4 que eu queria realmente ver, foram cancelados também, só me restando os filmes chatos para dédeu e os de samurais e gueixas. E como essa era uma mostra Cult, eles não podia ser clichê e passar Akira Kurosawa, não eles que falam “creme de La creme”, como se fosse “tranquilinho”. E assim, fui ver o filme de gueixa, o que nos traz de volta ao Shopping da Gávea.


Não sei se vocês sabem, mas se você quer ver sofrimento, mas sofrimento de verdade, você tem que ver um drama japonês. Se for histórico, a tristeza parece que duplica. E se for de gueixa, é o triplo do anterior. Imaginem então um drama histórico sobre a vida de uma gueixa. Caralho, é lagrima que não acaba mais. Você presencia humilhação e desprezo pelo ser humano em níveis nunca vistos, pelo menos no Ocidente. Num momento a mulher tá apanhando, no outro ela tá no enterro do primogênito, ela apanha mais um pouquinho e o filho mais novo vai para guerra com o pai. O marido perde a perna e o filho perde os braços. Pelo menos agora ela não apanha mais, mas ai precisa se prostituir para botar comida na casa. Nessa parte vem o desprezo, por parte do filho e do marido. Isso se repete algumas vezes até que no final ela se mata. E pior que todos os filmes do gênero são assim, só que com menos ou mais porradas, e muita ou pouca prostituição.

E o shopping nisso tudo? Bem, para começar assim que eu cheguei quase dei uma trombada na Ingrid Guimarães®. Quando, entrei realmente no prédio me assustei com a quantidade de pessoas de terno fazendo uma social num Café. Aliás, dava para fazer um manifesto inteiro sobre pessoas que freqüentam Cafés. Para se ter uma idéia, só passando para tentar achar as escadas rolantes eu ouvi a seguinte frase: “ah, dá mais ou menos uns 90 mil reais”. Se eu estivesse em qualquer outro lugar, teria parado imediatamente e olhado para trás, mas não podia quebrar a minha pose de freqüentador assíduo. Então, reunindo todas as minhas forças, continuei andando. Outra coisa irritante é o fato deles tentarem esconder qualquer coisa que lembre de longe suas origens humanas. Como o mero detalhe da escada rolante que eu só achei depois de meia hora procurando. Claro que posso estar errado, já que estou escrevendo isso uns oito ou nove meses depois de ter estado lá, mas eu nunca esqueço um shopping.


Isso sem falar do banheiro que te dá bom dia e parece ter sido projetado para ser mais bonito do que qualquer outra coisa dentro do shopping. E o povo de lá, ou melhor, povo não, porque eu posso estar ofendendo alguém. Eu vi All Star’s reluzentes o suficiente para re-cegar um cego e quase fiquei tonto de tanta estampa quadriculada que aparecia na minha frente. ALÉM DO MAIS, ONDE JÁ SE VIU UM SHOPPING QUE TEM MAIS TEATROS DO QUE CINEMAS. Vai te catar!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1

*Zé Messias é um notável crítico de cinema e um notório espírito de porco. Mas ele não tem gripe suína. E prefere ser um pesquisador numa Academia chata do que um Jornalista numa Imprensa suja e mal lavada.