quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Inspiração e composição; tentação e redenção – o eterno ciclo da condição humana

Abandonando toda a minha diminuta ética jornalística (todo o resto não é diminuto), decidi não cumprir meu acordo com o caro leitor. Sendo assim, não estaremos apresentando a continuação da história do Carnaval. Ao invés disso, aproveitando o ensejo da época pós-carnavalesca, a Quaresma, que tem justamente essa função reflexiva e também traz consigo a contagem regressiva para meus 20 aninhos, irei chocá-los e maravilhá-los com uma louca (e certeira) descrição do PROCESSO CRIATIVO.


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O que move o homem? Pois vos digo, é a inspiração. Desde um simples escovar de dentes até a composição de uma sinfonia, tudo passa pelo espectro sombrio de nossa criatividade. E dentro desse assunto, o mais interessante é o efeito dessa área de nosso cérebro nos grandes pensadores, para mim, os maiores dentre todos os artistas. No entanto, esse post não vem falar de neurologia, mas sim das diferentes formas de inspiração, mais precisamente, o que me faz escrever ou o que me fará escrever. Pois como todos podem notar, cada texto de uma pessoa (principalmente dos blogueiros) apresenta mais detalhes sobre a pessoa do emissor, do que propriamente do assunto sobre o qual ele está discursando. Enfim, estou em busca de minhas palavras e abaixo está o processo pelo qual passo diariamente.

Para inaugurar este pensamento, nada mais justo do que falar da fonte de inspiração universal, o AMOR. Sim, pois ele tem falado aos bons e maus poetas (para mim, sinônimo de escritor) desde antes do cuneiforme, e até da própria língua falada. As musas, como são chamadas as inspirações advindas do amor, são as responsáveis por textos com teor feliz ou soturno. Afinal tanto quanto existem estrelas no céu, existem formas de amar. A Beatrice de Dante Alighieri foi a responsável por boa parte dos poemas dA Divina Comédia, uma metáfora para o próprio amor. “Genealogia do Bem e do Mal”, “Assim Falou Zaratustra”, entre outros, são no mínimo reflexos do amor de Nietzsche por Elizabeth...sua irmã. E foi justamente dessa relação totalmente doentia que surgiram as palavras mais sábias e belas (e complexas) que um ser humano já escreveu. Até o filósofo Wittgenstein, que escreveu coisas profundamente densas e obscuras (para mim), fez tudo inspirado em seu amor por Mutumbu, o arrasa-quarteirão. Mesmo eu, que não possuo a faculdade do amar, acredito que um dia me renderei a esse recorrente e pujante tema. Com ele pretendo fazer minhas “12 Cartas de Amor”, título já escolhido para uma compilação de 12 cartas cuidadosamente escritas com uma única finalidade. Revolucionar. Nelas irei descrever esse sentimento de uma forma nova, longe da pieguice intrínseca ao amor, mas ainda assim conservando o romantismo. O efeito esperado: fazer com que cada leitor se apaixone pelas palavras assim como por seu par, suscitar uma profusão de sensações capaz de transformar o leitor mais qualificado num pobre e ignorante enamorado. Realmente uma tarefa digna de um intelecto como o meu. Porém, tudo à seu tempo. E não é possível escrever sobre algo que não se sente, pelo menos não para com terceiros.

O que me trouxe ao próximo item: o narcisismo. Eu podia escrever sobre o meu amor por mim mesmo, tão grande que é capaz de ofuscar qualquer outra pessoa que eu veja. Tão forte que não me possibilita sentir o contato humano. Sou desesperadamente apaixonado por mim, de uma forma que não consigo expressar com palavras gestos ou qualquer meio inventado por Deus ou pelo homem. O que me lembra de meu ídolo literário mor, John Ronald Reuel Tolkien, meu mestre e soberano, ou para vocês, o “cara por trás do Senhor dos Anéis”. Todo o universo criado e desenvolvido por ele em “O Hobbit”, “Senhor dos Anéis”, “Silmarilion”, “Mestre Gil de Ham”, entre outros, é, sem dúvida, um ode a sua própria inteligência, magnificência e conhecimento adquirido. Ela se achava o fodão (com razão), por isso criou um universo tão maravilhoso e gigantesco, para poder confrontá-lo com seu ego. Sempre que termino um livro dele penso assim: “esse cara era um gênio, quero ser como ele quando crescer”. E agora eu completo: “essa era justamente sua intenção com esses livros”. Ele era malandro, queria ser lembrado, queria ser idolatrado. E assim, também o sou, quero atrair os spots para mim, justamente porque eu me amo muito, quero ser idolatrado. Na verdade essa é a minha meta e minha resolução de ano novo de todos os réveillons. Porém encontrei um problema nessa minha nova forma de inspiração. Não que eu não me ame o suficiente, pelo contrário, meu amor por mim é quase doentio. Contudo, me odeio na mesma profusão (o que acredito, deve acontecer com todo mundo). Ironicamente, da mesma forma que o Gollum criado por Tolkien, minha relação comigo mesmo não é das mais saudáveis. Esse é um problema de pessoas que tentam conviver com as várias “versões” dentro si. Nada alarmante, nem “emo”, só um pouco perturbadora, e principalmente cansativa. Algo que cultivei por vontade própria, apenas para no final colher os frutos, afinal, as mais belas peças literárias são um produto da loucura.

Nesse estágio, como o Marquês de Sade, procuro me deixar levar pela loucura, deixando um pouco de lado a volúpia (fonte da qual o Marques mais bebia), acrescentando a ela, a depressão, a baixa estima vigorosa de um eunuco, uns toques de desespero e autoflagelação. Assim, vou trabalhando todos esses ingredientes para que eles me dêem a mais bela, pura e sincera TRISTEZA. Poderosa a ponto de fazer qualquer Latino virar Thom Yorke. Infelizmente (ou felizmente), ainda não levei a fundo esse experimento, mas acho que ele pode revolucionar a forma como vemos a escrita hoje, pode surgir até um novo “Guerra e Paz”, ou até um “Os Miseráveis”. A tristeza quando bem usada faz com que as palavras se encaixem de uma forma totalmente diferente, como um floco de neve, que são únicos. O que é irônico, pois é justamente a frialdade da tristeza que gera essa beleza etérea, mas ao mesmo tempo tão palpável.

Separada da tristeza, a SOLIDÃO é uma ótima fonte para os diversos poetas. A separação entre tristeza e solidão, se deve ao fato delas levaram a resultados muito diferentes, e terem origens diferentes. Enquanto, a tristeza é algo natural ao espírito humano, quase como a respiração (ou até mais que ela), a solidão já é totalmente estranha a nós e, por conseguinte, a dor que ela causa é bem mais profunda e irreparável. Tanto é que a forma de punição máxima dentro de uma cadeia é a solitária, que na maioria dos casos é pior do que a morte. Além disso, desde tempos imemoriais, a reclusão em si é considerada o castigo mais apropriado aos homens transgressores. Na literatura, o efeito da solidão breve é responsável por ótimas peças literárias, e é uma tática usada por um sem número de escritores. Já a solidão prolongada afeta diretamente a psique dos indivíduos, e gera peças complexas e perturbadoras, no entanto, com um quê genialidade. Paulo, aquele da Bíblia, fez as melhores Cartas quando estava confinado. O Apocalipse é um texto que João fez durante seu exílio no Chipre. Exemplos mais simples, os monólogos são as peças mais difíceis de escrever e encenar, mas, quando bem feitas, são sempre as melhores. É como dizem, “se um homem faminto mergulhar em um mar de merda com certeza irá achar milho para saciar sua fome. E para ele, essa pequena ‘iguaria’ será o banquete mais delicioso de sua vida”. Porem, encontro forte problema no que se refere a retratar a solidão, ou escrever inspirado nela, são as reclamações que ouvirei de todos os meus amigos falando: “como assim você é sozinho?! E eu?”. Elas estragam totalmente o processo criativo de aquisição da Solidão. Já que você não pode pensar em mais ninguém.

NOTA: é importante ressaltar que se SENTIR sozinho e ESTAR sozinho são completamente diferentes. Neste parágrafo, eu estava falando do estar sozinho realmente. Porém, é também preciso dizer que é possível estar sozinho em meio a pessoas.


PS: No final (da minha vida) irei juntar tudo isso e fazer o grande e único “Sobre a Humanidade” ou “Da Condição Humana”, ainda não decidi. Essa sim, a maior peça literária de ficção e não-ficção de todos os tempos.


CANSEI, falei demais, e tenho que fazer uma matéria para o jornal ainda hoje. Depois continuo esse trem, ainda falta raiva, inveja, felicidade, compaixão e oportunismo (no pior sentido da palavra). Na próxima edição ainda vou decidir o que fazer, pode ser o Carnaval II ou a continuação desse troço. O Dominus já vai ficar pronto, só que preciso de todo um fim de semana livre para dar inicio a ele. Vai ser grandioso!




“Todos os homens são ignorantes. Isso é ponto pacífico. Porém, sábios são aqueles que, conhecendo esta deficiência, agem segundo suas limitações”

- Zé Messias

Um comentário:

Renata Sofia disse...

A solidão não é estranha. Ela é a coisa mais comum.
Você nasce sozinho. A visão que se tem do mundo é sozinha, única. Nem os gêmeos compartilham os mesmos olhos. Você pode ir para o lugar que eu indiquei, se abaixar na minha altura, olhar para o que eu estava olhando e ainda assim, não vai ver a mesma coisa.
Somos sozinhos, o resto é paliativo