segunda-feira, 6 de julho de 2009

Talking about my generation (ou simplesmente, Qual é a minha geração?)

Eu nasci nos anos 80, no final deles para dizer a verdade. 1988, para ser mais preciso. Ano do Dragão, de Olimpíada em Seul e do Centenário da Abolição da Escravatura (o que sempre foi motivo de orgulho para mim – isso até eu ficar mais velho e descobrir que os negros não foram libertos, que ninguém cavalgou as margens do Ipiranga e que Cabral não descobriu o Brasil). Enfim, os anos 80 nunca foram a minha praia, na verdade, sempre o detestei por causa dos permanentes, das ombreiras e das cores berrantes. E até hoje eu agradeço por ter nascido na melhor parte desta década, o final.

Aí vieram os anos 90, dos quais eu passei a maior parte vegetando, ou seja, só cagando e comendo. Nessa época, que tenho para mim, foi a melhor da humanidade se estabeleceram os computadores modernos, a internet especificamente e os videogames. Porém, eu não aproveitei nada disso porque nunca tive dinheiro para essas regalias, ainda mais nos 90 quando isso era “novidade”. Meu negócio era a televisão. Eu assistia tudo o que você pode imaginar, afinal, tempo livre era o que não faltava. Como já expliquei, eu sempre fui pobre e fudido, e quando você é pobre e fudido não existe essa história de natação, judô, explicadora (isso era moda na minha época), balllet (queria realmente ter feito isso) ou qualquer outro tipo de atividade extracurricular. Então o jeito era assistir tevê, e eu assistia mesmo de 12h30 às 22h. Sem desligar e sem piscar também.

Eu podia ter saído casa e ido jogar bola ou soltar pipa que são a diversão dos pobres e fudidos, mas eu também não podia fazer isso (não podia mesmo, EVER). Porque quando você é pobre e fudido, acaba morando num lugar barra pesada. Tá, muita gente vai me chamar de viadinho agora (se é que já não chamou antes), uma vez que tem gente que mora em lugares potencialmente perigosos e nem por isso deixa de sair de casa. No entanto, lugares potencialmente perigosos não chegam nem perto do Jacarezinho dos anos 90, tanto é que eu não conheço ninguém vivo da minha idade (que não tenha sempre feito parte de uma Igreja). Porque aqui era assim, para você ver seus filhos crescerem ou você os coloca desde cedo numa igreja ou nunca os deixa sair de casa. Minha mãe, como não é boba nem nada, fez as duas coisas. Só para garantir, sabe como é, né?!



Assim, meus anos 90 foram cercados de muita fé e televisão, sendo que para minha “sorte”, uma anulava a outra. Por exemplo, uma coisa que todo mundo lembra era de assistir na Manchete a Cavaleiros do Zodíaco, YuYu Hakusho, entre outros. Eu não. Minha mãe não me deixava assistir porque eram “desenhos do demônio”. Agora, o mais divertido e que vai chocar a todos vocês, é que mommy não era uma daquelas beatas chatas que você vê nas novelas, ela nem freqüentava a Igreja. Então pedia conselhos para minha tia (a única crente da família). Eu ficava muito bolado na época, mas lembrando hoje até que fica engraçado. Porque era algo mais ou menos assim. “Dalva (minha tia), eu botei o XXX (apelido familiar secreto) na igreja. Você que entende dessas coisas de religião me dá umas dicas aí”. E foi nessas que quaisquer resquícios de uma infância minimamente comum foram perdidos. Claro que eu fiz várias coisas divertidas, mas nada que os garotos normais de 7 a 11 (minha infância nos anos 90) tenham feito.

Falando em garotos normais, outra coisa que me diferenciava de qualquer outra criança no mundo, ou pelo menos, no Rio de Janeiro naquela época era que eu simplesmente A-D-O-R-A-V-A ir para a escola (coisa que até hoje gosto). Lembrando hoje em dia, acho que era porque só lá que eu tinha alguma espécie de convívio social, o que para mim era algo FANTÁSTICO. Detalhe, eu não sou filho único. Eu tenho um irmão mais novo. Só que crescer com ele, é a pior forma de solidão que existe, como já expliquei num post anterior. Outra coisa que eu gostava muito da escola simplesmente porque eu era muito bom nisso (coisa que não funciona muito hoje). Voltando a questão do pobre e fudido... Quando você é pobre e fudido, você vai para o sistema público de ensino, e como eu aprendi mais tarde, o sistema público de ensino faz tudo, menos ensinar. O nível de exigência era tão alto que qualquer pessoa com meio cérebro e que prestasse um mínimo de atenção poderia fazer uma verdadeira festa. E foi assim que durante 10 anos (jardim-8ª série), eu cresci com a vã ilusão de ser algum tipo de gênio fenomenal. O que foi profundamente traumático quando eu entrei no 2º grau e pior ainda no Vestibular.

Findo o que na minha época ainda se chamava de primeiro grau, fui para o que hoje se chama de ensino médio, isso em 2003. A partir daí começou o que eu chamo de Era da Compreensão. Foi justamente nessa época que descobri que a Independência do Brasil foi um capricho de um jovem mimado, a descoberta do Brasil foi a jogada de um malandro endividado e que os negros foram libertados apenas para se tornarem também escravos do capitalismo. Somando se a essas descobertas históricas vêm as constatações sociais, como a desigualdade de renda, o preconceito, etc. Enfim, todas aquelas coisas que não fariam a mínima diferença se você não soubesse e que na verdade seriam até melhor que você ignorasse. A Era da Compreensão é mesmo uma filhadaputa, mas pelo menos você pode dizer que está vivendo num estado de consciência plena (o que não é grandes merda e eu a trocaria facilmente pela velha ignorância infantil enfiando um giz de cera no nariz).

A primeira década de 2000 começou e já está acabando e sinceramente ainda não sei o que estou fazendo aqui. A Era da Compreensão não me trouxe nada de bom, exceto realmente saber das coisas (o que já vimos é algo bem questionável). Pelo lado bom, os computadores e os videogames modernos finalmente chegaram aqui no Morrão. Ou como diriam meus professores pós-modernos, “a revolução digital e a consolidação da cibercultura trouxeram verdadeira liberdade de expressão através dos meios digitais, em especial a internet”.



Fora isso que é até bem importante, o mundo continua o mesmo. As pessoas continuam se matando, destruindo a Terra, se divertindo enquanto se matam e destroem a Terra e se reproduzindo alheia a tanta destruição, matança e diversão. A única diferença é que agora todo mundo pode assistir a tudo isso no Youtube. Ou comentar a hipocrisia do modo de vida humano (ou pós-humano, como diria um professor meu) no twitter ou num blog.

3 comentários:

*Jessie* disse...

Muito bom, Zé!

Eu tb tinha a ilusão de ser um prodígio (tb estudante do ensino público). Huahuahuahuahua

Anônimo disse...

Infatuation casinos? scrutinization this untested [url=http://www.realcazinoz.com]casino[/url] captain and horseplay online casino games like slots, blackjack, roulette, baccarat and more at www.realcazinoz.com .
you can also corroboration our redesigned [url=http://freecasinogames2010.webs.com]casino[/url] devotedly up call the accordance at http://freecasinogames2010.webs.com and worst bona fide genially misled !
another distinct confinement [url=http://www.ttittancasino.com]casino spiele[/url] arbitrator is www.ttittancasino.com , in behalf of the fringe benefits of german gamblers, fall upon during manumitted online casino bonus.

Anônimo disse...

top [url=http://www.xgambling.org/]casino online[/url] coincide the latest [url=http://www.casinolasvegass.com/]free casino bonus[/url] manumitted no deposit reward at the chief [url=http://www.baywatchcasino.com/]casino perk
[/url].