sábado, 11 de abril de 2009

A nova onda do Imperador


Acho que pela primeira vez na vida, não só entendi o que um jogador de futebol quis dizer, como também concordei em gênero, número e grau. E este é um fato sem precedentes, pelo menos para mim. Isso porque uma das minhas “missões” enquanto pobre (pseudo) intelectual brasileiro foi ridicularizar tais indivíduos (?), uma vez que eles preferiram negligenciar os estudos e uma vida culta (e miserável) em favor da esperança vã de fama e dinheiro. Idiossincrasias a parte, acho que sempre me ressenti dos jogadores, porque no fundo eu pensava que esse era o sonho dos meus pais: ter um filho jogador (com fama e dinheiro, óbvio). Sonho que não pude realizar, pois nunca gostei de futebol (e nenhum outro esporte) e mesmo se gostasse nunca soube chutar latinha quanto mais uma bola. O que é muito irônico em muitos sentidos. Principalmente, porque o meu Paps até tentou jogar (era um grande beck na sua época), mas meu Vôvs nunca deu força porque queria que ele estudasse.

Além disso, nunca entendi como as pessoas (do Brasil) de maneira geral levam o futebol tão a sério: torcendo e principalmente jogando. Quem diz que brasileiro é um povo muito acomodado nunca jogou uma pelada de fim de semana ou um rachão na hora do recreio. Juntando tudo isso já deu para ver que considero os jogadores os seres mais desprezíveis da face da Terra. O que, curiosamente, não me impediu de torcer para eles agora que sou mais velho e entendo um pouco mais a graça do futebol (mesmo não conseguindo assistir a uma “partida inteira”). Só que este desprezo/rancor/chacota começou a mudar. Porque graças a figura quase mitológica do Magnífico Obina, o futebol se tornou divertido e ouso dizer até respeitado por minha pessoa.

No entanto, até quinta, minha opinião de que os jogadores eram todos burros de carga ignorantes que só sabiam seguir o dinheiro amarrado por empresários a 20 cm de seus focinhos não tinha mudado. Foi só quando li a respeito da decisão de Adriano de se afastar do futebol que eu passei a ver o ser humano por trás da máquina. Apesar da chacota da mídia em geral (o que me deu um pouco mais de nojo da minha futura profissão) e da série de especulações mais do que levianas a respeito de álcool, drogas, influências criminosas, etc. Qualquer um que prestasse bastante atenção aos depoimentos do cara ia ver a sinceridade que tava ali. Claro que aquilo podia ser resultado de algum treinamento feito com algum desses relações públicas metidos a besta, mas sei lá, acho que não dá para fingir a total e completa desolação. A imprensa (malditos somos!!) caiu de pau, óbvio?! Favelado, mesmo sendo rico, não entra em crise, não pode pensar na vida, ou melhor, não pode/sabe pensar. Isso é uma hipocrisia do cacete, porque se fosse o Kaká, que morava bem (e agora melhor ainda), as pessoas só iam dizer que ele tá com saudade da família e dos amigos. Mas com o cara é lá da quebrada, as pessoas só leem, “Adriano foi para favela”, “Adriano desapareceu na favela há duas semanas”. Ninguém lê, “Adriano voltou para casa”.

Como eu disse no começo, ele tá totalmente certo. Não descarto a possibilidade de estar interpretando tudo errado, mas o Adriano fez o que eu (e muita gente), há muito tempo, tenho vontade de fazer, mas não tenho nem os meios ($$$) nem as bolas para tal. Ele olhou para todo mundo e disse. “Para (verbo) o mundo que eu quero descer, porra. Essa merda já perdeu a graça!”. Ah, como eu queria dar uma parada e simplesmente ignorar tudo e todos. Parabéns, Adriano. Tô contigo e não abro.

Um comentário:

*Jessie* disse...

É isso aí, Zé!

Infelizmente nossa raça é bastante cruel sim. rs